- Êa, Seu Amadeu, há quanto tempo, vai de que?
- Cheguei de viagem, Baiano. Bota aí uma barriguda. Você lembra do Gerê?
- Cheguei de viagem, Baiano. Bota aí uma barriguda. Você lembra do Gerê?
- Lembro sim, o da boina vermelha, queimava o dente, subia na mesa e
fazia discurso. Vinha com ele uns tribufus, vestidas como se não tivessem mãe,
t’sconjuro, com aquelas batas de chita, tudo da Faculdade ali da esquina.
- Esse
mesmo.
- Cum’era o troço dele, que capitalista era tudo uns porco, que só era
barão quem roubava o poletra...
- Proletariado, Baiano. Era isso sim, ele estava enfiado na revolução
até a raiz dos cabelos, porque isso tudo ia se acabar, seu Edgar...
- Ô, Seu Amadeu, eu sou o Baiano, Edgar é o patrão! E o senhor nem bebeu
ainda!
- Não, rapaz, era uma peça do Oduval...deixa pra lá. Lembra que um dia
ele sumiu? Pois foi pro Araguaia, queria botar os camponeses no poder, acabar
com os capitalistas. Os ricos iam todos ser fuzilados ou, então, iam trabalhar
na roça, que nem na China, não tinha essa de advogado, engenheiro. E todo mundo
ia ficar feliz, porque iam acabar com o dinheiro, todos iam trabalhar igual e
receber do governo tudo que precisassem, ninguém ia viver do trabalho de outro,
porque o dinheiro era o pai de todos os males do Brasil, e o escambau.
- Taí, o Seu Edgar bem que podia dividir o batente comigo, em vez de
passar o dia chaleirando a cozinheira. Ele é casado, o pilantra! Mas, e depois,
que fim levou o Gerê?
- Pois então, estava eu lá no Pará, a trabalho, e quem me aparece na TV,
de terno elegante, gravata italiana, bigode aparado e Rolex no pulso, fumando
charuto e negando tudo o que dizem dele, porque ele não roubou nada da
prefeitura, que é intriga da oposição, que o imposto de renda prova que ele é
honesto? Quem? O Gerê, Baiano! O Gerê!
- Ôxe! Cumé que aquele molambento, que só tinha duas camisas quando saiu
daqui, virou terno, gravata e charuto?
- Aí mostraram ele indo embora no banco de trás dum Mercedes novinho,
com chofer de boné, bolinando duas louras boazudas cheias de jóias de ouro, de
cegar de tanto brilho. E o reporter terminou dizendo que o, veja só, Co-men-da-dor
Antonio Geremário ia responder a um processo, mas que, com a fortuna que tinha,
dificilmente seria condenado.
- Vigessantíssima, logo ele, que gritava que tinha que acabar com os
ricos, que era tudo ladrão, que o dinheiro não valia nada, só fazia as
desgraças de todo mundo e num trazia felicidade!
- Pra você ver, Baiano. Agora traz.
Rafael Linden
Baseado em "fatos reais"?
ResponderExcluirOlá Rafael,belo texto.
ResponderExcluirPost divulgado no Agregador Teia.
Até mais
Obrigado, a divulgação de vocês tem sempre rendido acessos originários da página da Teia.
Excluirabs
Deve ter muita gente apoiando o Gerê, com certeza ele é vítima de perseguição política e da imprensa...
ResponderExcluirCertamente...
ExcluirComo sempre, na mosca! [x]
ResponderExcluirA mosca é enorme, fácil de acertar...
Excluir:-)
Muito bom!!!
ResponderExcluirObrigado, Anônimo. Volte sempre.
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