Resta o som plangente de um
oboé, a me envolver na melodia triste do século XIX. Mas, de que serve a música
dos mortos quando só tu brilhavas, viva e pulsante?
Allegro molto.
Allegro molto.
Cada manhã emoldurava tua
figura graciosa. Sem palavras. O dia voava, mas logo vinha outro e de novo, ao
longe, teus olhos luminosos acordavam meu coração.
Andante.
Já me via servo de teus
desejos. No entanto, a coragem dissolvia no espectro de antigos nãos. O tempo se
arrastava até que te visse outra vez. E tu, com meio sorriso a menos.
Largo.
Mudo, ainda, buscava uma audácia
qualquer. Em dias que já não passavam eu via, em restos do teu rosto, as marcas
do distanciamento. Lento, inexorável.
Coda.
É tarde. Fiquei só, assombrado pela queixa
dolorida do poeta(*) “pelo meu mal implacável, de não crer no futuro, fui jogado no escuro...”. Perdi o sonho, por tanto temer a mágoa.
Rafael Linden
(*) Cesare Pavese (1908-1950).
Uma leitura dessa magnitude na madrugada, antes de iniciar os trabalhos do dia (ainda mais sob 4 graus de temperatura) é muito revigorante.
ResponderExcluirLindo!
Obrigado, Carmen. Uma boa lareira é o melhor remédio para esse texto...
ExcluirA D O R E I !!! Como vc mesmo diz, na mosca.
ResponderExcluirValeu, irmão. Continuo experimentando escrever coisas diferentes.
Excluirabraço
R
Amei Rafa!,,,
ResponderExcluirSó espero que sejaC ficção poética, nada com amores perdidos,
Pura ficção, Tania. Mas deve ter raízes em algum evento da adolescência, embutido nas profundezas do meu cérebro...
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