Morreu o jornalista e escritor Ivan
Lessa, criador dos textos que acompanhavam o ratinho branco “Sig”, desenhado pelo
cartunista Jaguar. O roedor debutou nos quadrinhos Chopnics, encarapitado no ombro do personagem BD (o “Capitão
Ipanema”), alter ego de Hugo “Bidê”
Leão de Castro, ator, humorista e um dos fundadores da Banda de Ipanema. O nome
completo do Sig era...Sigmund Freud, é claro.
As tiras, criadas por Jaguar e Ivan
para promover uma marca de cerveja, exibiam boêmios do bairro, principalmente frequentadores
do antigo Jangadeiros. Foi num bar que BD enunciou e o rato testemunhou a
histórica frase “Intelectual não vai à praia. Intelectual bebe”. Depois, Sig
pontificou no semanário O Pasquim, fazendo
comentários irônicos no canto das tiras ou protagonizando suas próprias
historinhas, entre as quais declarações dramáticas de paixão pela atriz Odete
Lara e outras beldades da época. Logo foi promovido a mascote e mestre de
cerimônias do jornal.
O jornal deixou de circular em 1991 e,
depois do fiasco da tentativa de reeditá-lo e da perda de Henfil, Tarso de
Castro, Paulo Francis e Millor Fernandes, a morte de Ivan Lessa nos deixa cada
vez mais órfãos d’O Pasquim. Quem não acompanhou este hebdomadário, substantivo pedante escolhido, por pilhéria dos
editores, para descrever o jornal, perdeu uma chance de ver o humor cumprir sua
mais nobre função – fustigar os poderosos. Ideologias à parte, o jornal do Sig
ajudou muita gente a resistir ao autoritarismo e a lutar pela Democracia, com
“D” maiúsculo. Não, ainda, a que temos por aqui, eivada de corrupção e cinismo.
Não era esse o nosso desejo quando, entre outras atividades subversivas,
ansiávamos por cada nova edição d’O Pasquim.
Minha geração, entre outras, tem uma
dívida de gratidão com Jaguar, Tarso de Castro, Sergio Cabral (o pai, não
confundam), Ziraldo, Luiz Carlos Maciel, Millor, Sergio Augusto, Ivan Lessa,
Paulo Francis, Carlos Leonam, Henfil, Claudius, Fortuna e outros colaboradores,
não só por suas contribuições individuais ao humor e à cultura brasileira, mas,
como um conjunto, pel’O Pasquim.
Todos eles, juntos, são a alma do
Sig. O rato branco não era apenas um bicho falante fictício. Merece ser o
personagem principal desta crônica porque, mais até do que uma pessoa, era um ícone
d’O Pasquim e do significado deste jornal para quem viveu a ditadura militar ao
deixar a adolescência para trás. Sem o Sig, teria sido mais difícil.
Rafael Linden
Verdade Rafa. Eu era leitor assíduo desse jornal. Entre tantas, quando o Collor assumiu a presidÊncia e começou a correr de jetski, jato, moto e "otras cositas mas" publicaram na primeira página bem grande - "Dá ... que passa"! Em que lugar do mundo fariam isso com um presidente?!
ResponderExcluirE este Presidente, em particular, merecia...
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