Assunto
espinhoso. Começa na infância, quando a criança é informada de que “quando
crescer vai entender” isso ou aquilo. Numa dessas, o moleque não apenas se
enfurece porque ainda não está na idade de ver respondida sua inocente pergunta
“Vovô, o que é Viagra?”, mas fica ansioso porque não sabe quanto tempo terá de
esperar. Muitos anos passam antes de merecer resposta. Um dia ele descobre sozinho
e começa a torcer para o tempo andar bem devagar.
Na outra ponta tem a senhorinha que “se acha” e veste um jeans paralisante, aquele que limita os movimentos abaixo da cintura de tal forma que a madame rebola como se estivesse numa competição de marcha atlética. A perua já dobrou o cabo da Boa Esperança e perdeu a noção do tempo. Acha que ainda é um broto – para quem tem menos de trinta anos, broto significa mulher jovem, no dicionário dos coroas. Bota a calça de manhã, quando ainda tem força suficiente para arrastá-la do tornozelo até a cintura e ejeta-se da cama como uma gangorra, caindo diretamente dentro das sandálias de salto 15, previamente dispostas de acordo com a planta desenhada por um engenheiro aeronáutico. Ao fim do dia, haja Hypoglós.
Na outra ponta tem a senhorinha que “se acha” e veste um jeans paralisante, aquele que limita os movimentos abaixo da cintura de tal forma que a madame rebola como se estivesse numa competição de marcha atlética. A perua já dobrou o cabo da Boa Esperança e perdeu a noção do tempo. Acha que ainda é um broto – para quem tem menos de trinta anos, broto significa mulher jovem, no dicionário dos coroas. Bota a calça de manhã, quando ainda tem força suficiente para arrastá-la do tornozelo até a cintura e ejeta-se da cama como uma gangorra, caindo diretamente dentro das sandálias de salto 15, previamente dispostas de acordo com a planta desenhada por um engenheiro aeronáutico. Ao fim do dia, haja Hypoglós.
No meio do
caminho, é claro, encontra-se o bem sucedido profissional liberal que enfrenta
galhardamente a crise da meia idade. Frequenta furtivamente uma barbearia nos
fundos de um prédio decadente, no centro da cidade, onde entra disfarçado com
óculos nariz e bigode postiços para pintar os cabelos grisalhos de preto
“natural”. E sai de lá dissimulado, para enfim relaxar e trotar na calçada todo
lampeiro, como se nada tivesse acontecido, sempre de olho no efeito que sua
bela cabeleira fará nas jovens estagiárias que voam de um escritório para outro.
Como resultado da má qualidade das tinturas, seu cabelo cai maciçamente e nosso
amigo, em lugar de pintar o que sobra, acaba por comprar uma peruca que o deixa
definitivamente com ar de caudilho centroamericano.
E muitos
outros tipos faceiros, que sofrem com a pouca idade ou com a chegada gloriosa da
“melhor” idade – e bota eufemismo nisso. De minha parte, ao completar
sessent’anos, exultei com a licença para, afinal, usar a fila dos idosos no
banco superlotado, ou estacionar em vaga reservada no shopping idem. Só para constatar
o que eu já suspeitava, ou seja: que a fila preferencial anda muito mais
devagar do que a fila normal, porque idoso adora uma conversinha e, em meio ao
tédio fulminante de seus afazeres diários, caixa de banco aproveita para se divertir
com as histórias da velharada; e que, ora veja, de uma hora para outra toda a
clientela do shopping fez sessent’anos e não há vaga de idoso que dê conta da galera
da dor nas juntas.
Para os
leitores que estavam com saudade de crônicas cósmicas, esclareço que essa
historinha sem graça foi motivada por mais um acontecimento científico de
proporções astronômicas. Pois vejam que a Agência Espacial Européia divulgou há
poucos dias, a última descoberta obtida com o Telescópio Planck, que passeia pelo
espaço a um milhão e meio de quilômetros da Terra. Depois de mais de um ano de
observações, os cientistas concluiram que o Universo é mais velho do que se
pensava. Cinquenta milhões de anos mais velho! Ou seja, em lugar dos treze
bilhões e setecentos e cinquenta milhões de anos que constavam na certidão de
nascimento anterior, fornecida pela NASA em 1991, agora se acredita que o
Universo tem treze bilhões e oitocentos milhões de anos de idade.
O que, minha
senhora? É uma titica de diferença? Só 0,3% a mais? Sua presteza nas contas é
louvável e, admito, a diferença é muito pequena mesmo. Mas há duas
considerações a fazer. Para começar, os novos números representam avanços
importantes na compreensão da dinâmica dos corpos celestes. Só faz bem aumentar
o entendimento destas coisas, quanto mais não seja porque, como tem sido
amplamente divulgado, aqui mesmo na Terra volta e meia nos cai um meteorito ou
nos passa raspando um asteróide.
E, por
último, mas não menos importante, se a estimada leitora acha que um pouquinho
mais de idade não faz nenhuma diferença para o Universo, por que cargas d’água
tanta gente faz questão de enganar os outros, ou a si mesmo, sobre a travessia
dos 39 para os 40, sofre tanto com as ansiedades de chegar ou não aos 18 ou aos
60, ou apela para tecnologias cosméticas ou apetrechos de vestuário para fingir
a idade que não tem?
Rafael Linden
É pertinente o comentário da sua leitora, caro Rafael. Dentro da metade da mesma década (Ou bilhão de década, sei lá!), qualquer alteração faz pouquíssima diferença. Pelo menos pra nós...
ResponderExcluirPois então...
Excluir:-)
bjs
R
É... é tão quimérico quanto as tentativas de se aparentar a vida que não tem. Há falta de sensibilidade, simplicidade, gentileza... e para responder a ultima pergunta, creio que é porque muitos ainda não se deram conta da beleza que existe em apenas "ser", sem a necessidade de viver querendo "ter".
ResponderExcluirBeijo grande! :)
CG
D'accord...
Excluirbjs
R
Rafa, adorei o hypoglós!
ResponderExcluir:-)
ExcluirBjs
R
Vidas vão, vidas vêm... e as dúvidas são sempre as mesmas... "vida louca, vida breve"!
ResponderExcluiré isso aí...
ExcluirR
Adorei: em relação ao Universo, eu me senti um bilionésimo mais jovem! Rs
ResponderExcluirFico feliz em ter ajudado...
Excluir:-)
R
Otimo
ResponderExcluirObrigado, Anonimo. Volte sempre.
ExcluirR
Delícia Rafa :-))
ResponderExcluir[x]Doris
:-)
ExcluirObrigado, Doris,
bjs
R
Sem convite nem mostrar cartão..vou chegando e te lendo...e gostando do teu 'devaneio' pelas realidades de sessentão..que já sou há dois anos apenas. Agradável ver que as percepções quanto aos ditos privilégios dessa idade são comuns também a você..eu que me achava estranhamente inserido neste pessoal que merece fila especial e nela bate mais papo do que se apressa.
ResponderExcluirTe ver falar em "broto" me consolou...noutro dia me vi "vaiado" por "forçar uma barra" e dizer que "me amarrei" em uma certa música. Ver minha "antiguidade" atestada me sacudiu e acordou..
E Hipoglós...como alguém comentou aí antes...também é de me dar saudade da infância carioca e tijucana.
Será que ainda existe ?
Prazer...volto qualquer hora...já com novo nome...talvez Ricardo " Cariano" ( carioca que agora é baiano - de moradia,adoção e alegria)...sendo o mesmo Ricpreto que aparece até que me anime a aprender como mudar no Blogger.
Abraço Cariano e até...