O jornal britânico The
Guardian relatou que foi instalado um templo automático na Universidade de
Manchester, na Inglaterra, dentro de uma cabine que, anteriormente, servia para
tirar fotografias para documentos. Agora, em vez de escolher o formato três por
quatro ou o tamanho passaporte, ajeitar o cabelo, olhar em frente e apertar o
botão, a gentil leitora poderá entrar, sentar-se numa daquelas
desconfortabilíssimas cadeiras que, em geral, se acha nestes cubículos e, numa
tela sensível a toque, escolher uma prece para ouvir dentre trezentas orações
gravadas em sessenta e cinco línguas. A geringonça ganhou o nome de Pray-o-mat,
algo assim como “Rezamático”.
Estão estranhando? Pois saibam
que se trata de uma experimento programado por cientistas daquela universidade,
como parte de uma investigação da arquitetura de espaços ecumênicos. A pesquisa
destina-se a testar modos e meios de incentivar o pluralismo e a tolerância
religiosa e cultural. Não apenas é coisa séria, como o projeto tem
financiamento do Conselho de Artes e Humanidades da Inglaterra e apoio do
Instituto Goethe.
Tranquilizem-se, pois não pretendo
debater o projeto em profundidade. Mas, como nossa amada pátria entrou na era
da inovação, este vosso criado, imbuído do mais moderno espírito empreendedor,
aproveita para sugerir algumas engenhocas que, se bem financiadas e espalhadas
do Oiapoque ao Chuí, muito poderiam, se não incentivar o pluralismo e a
tolerância, ao menos atender a legítimos desejos de nossa gente.
Por exemplo, o “Encontromático”.
Digamos que o cavalheiro está com vontade de trocar uma idéia com uma
senhorinha, mas encontra-se cansado do batente e desprevenido por pequenez de
salário. Caso não queira ou não possa se esmerar em telefonemas, jantares,
flores e sacolejos musicais, pode entrar na cabine apropriada e, com um leve
toque na tela, escolher uma parceira que...pensando bem...o rejeitará sob o
convincente argumento “ora, vá se catar, estrupício”. Para ser franco, acho que
esse não vai funcionar, apesar de toda a expectativa de pluralismo e
tolerância.
Já o “Paunelesmático” tem chance.
Consistiria de uma cabine com uma tela altamente reforçada e sensível a
pontapés, na qual se exibiria uma coleção de picaretas de nobre estirpe, que
costumam se aboletar nos mais diversos prédios públicos com o objetivo precípuo
de se arrumar à custa de nossos suados impostos. Ao terminar a leitura de seu
jornal diário, o respeitável contribuinte poderia entrar numa cabine destas e
registrar, a chutes certeiros, o seu veemente desgosto pela falcatrua do dia,
ao mesmo tempo em que fortaleceria a democracia, a qual, por incrível que
pareça, aos dois mil e seiscentos anos de idade ainda resiste, em que pese
aquele bando de filhos da mulésta.
E, por último, ocorre-me que Andy
Warhol, ao dizer que qualquer um de nós teria direito a quinze minutos de fama,
errou feio, pois há muitos que passam muito além dos quinze minutos e
infernizam a vida alheia por dias, semanas, meses a fio. Por esta razão, sugiro
o “Paradeenchermeusacomático”, no qual o cidadão poderia escolher o chato cuja
“overdose” mais o incomoda no momento e, ao simples aperto de um botão,
produzir na criatura um incômodo qualquer, sem exageros, pelo puro prazer da
vingança. De minha parte, para começar imagino algo assim como um furúnculo na
virilha do Neymar, uma gengivite na Carminha da novela, ou uma disenteria no
Michel Teló, que já seriam suficientes para um certo desafogo espiritual. E peço
encarecidamente que me poupem da humilhação de constatar, através de vossos
comentários, mensagens ou cartas anônimas, que o chato supracitado é o locutor
que vos fala.
Isto posto, despeço-me com meus votos
de que os estimados leitores também se animem a criar novos usos para as velhas
cabines fotográficas, que mereçam atenção e, quiçá, financiamento por parte de
nossas egrégias autoridades constituídas. Afinal, se os doutos cientistas de
Manchester conseguem apoio para inventar uma cabine de fast food de
preces, bem que os guardiães de nossos combalidos recursos orçamentários podiam
nos ajudar a incomodar os chatos, em vez de rechear os bolsos dos picaretas.
Rafael Linden
Olá Rafael.
ResponderExcluirPost divulgado no Portal Teia.
Até mais
Obrigado, amigo
ExcluirR
Rafael,
ResponderExcluirsua universalidade me encanta. Bem coisa de cientista mesmo. Enquanto estamos preocupados com o quarteirão, o mundo não lhes basta. Abraço. Seu blog está no meu desktop. Me manda seu email, que eu quero mandar umas fotos que acabei de receber.
Eu sou meio enrolado com informática... então se puder responder pelo <>, agradeço.
Obrigado pelas palavras. Vindas de quem a usa tão bem como você, são muito estimulantes.
Excluirabraço
Rafael