Do jeito que as coisas andam aqui e
alhures, sabe-se lá por quanto tempo ainda haverá o que comemorar, ou
oportunidade para tal. Portanto urge celebrar tudo que há de bom, como bem
apetece a este humilde cronista. Aniversário de criança, da sogra ou de
formatura, prêmio da loteria ou distinção profissional de amigos, gol de placa
no último minuto ou cesta do meio da quadra, sol de verão ou aquele friozinho
ameno que emoldura um vinho esperto, vale tudo antes que banhos de sangue, de
lama ou de cinismo acabem de vez com nossa combalida espécie.
Então, ainda é tempo de comemorar o
aniversário da Alice. Qual delas, minha senhora? Aquela que, um belo dia há
cento e cinquenta anos, deu de escorregar por um buraco atrás de um coelho
branco que, às carreiras, consultava um relógio de algibeira e confirmava estar
atrasado. Criada pelo matemático Charles Dodgson, foi resultado de um passeio
de barco com o reverendo Robinson Duckworth, quando ambos trouxeram de volta de
um piquenique as filhas do Decano de um dos Colleges
de Oxford. Ao longo do passeio uma delas, Alice, ficou encantada com uma
história contada por Dodgson e lhe pediu que a escrevesse. O autor, que adotou
o pseudônimo literário “Lewis Carroll”, publicou a história com ilustrações do
artista John Tenniell, pela primeira vez, em Julho de 1865.
Quem não leu não sabe o que está
perdendo. Obras primas de nonsense,
“As aventuras de Alice no país das maravilhas” e a sequela “Alice através do
espelho e o que ela encontrou lá” vem desde então encantando crianças e
adultos, particularmente os bem-humorados. Prova é que o leitor rabugento não
gostou na infância, continua não gostando e, ora essa, não é ranheta à toa. Muitos
continuam a reler, descobrindo pitadas de humor antes despercebidas entremeadas
no texto e, volta e meia, revendo a escolha de sua passagem predileta.
Há os que adoram o “desaniversário”,
data adequada para ganhar um presente em qualquer dos trezentos e sessenta e
quatro dias do ano em que não se comemora o aniversário propriamente dito;
outros se identificam com a passagem em que Alice diz não querer andar com
loucos, o gato de Cheshire responde que é inevitável pois todos somos loucos, a
menina pergunta como ele sabe que ela o é, ao que o gato retruca que, se não
fosse, não estaria ali. Cá no telhado este que vos dedica esta crônica, depois
de repetidas leituras ao longo de décadas, ainda prefere o diálogo:
“-Não posso acreditar nisso!” -
disse Alice.
-“Não pode?” - disse a Rainha com tom de voz
penalizado. “-Tente outra vez:
respire profundamente e feche os
olhos.”
Alice riu. “-Não adianta fazer
isso.” - disse ela - “Ninguém pode acreditar em
coisas impossíveis.”
“-Eu diria que você nunca praticou bastante.”
- disse a Rainha - “-Quando eu
tinha a sua idade praticava sempre
meia hora por dia. Às vezes me acontecia
acreditar em seis coisas
impossíveis antes do café da manhã.”
Quem tem na memória outra passagem
predileta é bem-vindo a escreve-la na seção de comentários. Não, senhora, não é
uma enquete nem haverá prêmios, infelizmente a crise impede que este espaço
distribua outras benesses que não nossas mal-traçadas linhas.
A triste ironia deste aniversário é que o
passeio de barco do genial Lewis Carroll com o Reverendo e as crianças foi
feito ao longo do trecho do rio Tâmisa que passa pela cidade de Oxford e que,
naquele lugar, é chamado de Isis. É consternador o contraste entre homônimos
tão distintos.
Mas, entre as coisas impossíveis em
que cada um de nós deve acreditar antes do desjejum, quem sabe não cabe uma
ou outra utopia, como bom senso na capital federal, respeito pelo entorno e
pelos outros em tantas partes do país e do planeta, e paz por aí afora…
Feliz Aniversário. E felizes todos os
Desaniversários, Alice.
Rafael Linden
Rainha de Copas? Temos uma logo ali em Brasília.
ResponderExcluir:-)
ExcluirLindo Rafael, comme il faut.
Excluirsó vc pra nos alegrar, nestes dias tão sombrios como os que estamos vivenciando nestas catástrofes.
Obrigado!!
ExcluirR
Pois é, temos mesmo uma rainha de copas...Feliz desaniversário!
ResponderExcluirPois é...
ExcluirMuito bom como sempre
ResponderExcluirFeliz desaniversario
Inez e Gil
Obrigado, queridos! Voltem sempre,
ExcluirR
:-)) É bom lembrar de vez em quando! Obrigada Rafa!
ResponderExcluir[x] Doris
Tomara que a lembrança se espalhe.
Excluirbjs
R
Como todas as crônicas desse blog: Irreparável.
ResponderExcluirAdorei!
Obrigado, Anônimo. Volte sempre!
ExcluirR
Aqui é manhã cedo e ainda não tomei café... Vamos a isso! :)
ResponderExcluirBoa sorte!!
Excluir:-)