Os que vivem ao sul de
Minas Gerais não precisam de legenda, mas o resto do Brasil talvez necessite de
tradução. Pebolim é conhecido nas latitudes que vão do
Oiapoque a Camanducaia como futebol-totó e, reza a Wikipedia, em
Portugal como matraquilhos, matrecos ou perceberitos.
Para quem ainda não
reconheceu, é o joguinho em que cada equipe conta com onze bonecos de madeira
distribuidos em quatro espetos de metal, os quais são movimentados por um ou
dois jogadores de cada lado com o objetivo de arremessar uma bolinha para fazer
gols no adversário, como no futebol. O nome genérico deste jogo é “futebol de
mesa”, mas já nisso há problemas, pois alguns usam a mesma denominação para o
“futebol de botão”, que é outra coisa.
Brincadeira
de criança, dirão os apressadinhos. Nada disso, é coisa seríssima. A ponto do
jornalista Derek Workman ter publicado na Smithsonian
Magazine
um artigo sobre a história do pebolim. E há dois aspectos curiosos no relato de
Workman: um deles é a controvérsia sobre a invenção do jogo, que inclui a
hipótese de seu aparecimento no final do século XIX, uma patente na Inglaterra
em 1923, uma reivindicação de um francês nos anos 1930 e a explicação mais
popular, de que o pebolim foi inventado por um certo Alexandre de Finesterre, o
qual alegou ter idealizado o jogo, em 1937, quando convalescia de ferimentos
sofridos na guerra civil espanhola.
Outra
curiosidade se refere aos nomes que o joguinho tem em diversos países e respectivas
línguas. O artigo cita lagirt em turco, csocso em húngaro e, ora vejam, baby-foot na França (os numerosos
leitores franceses deste blog teriam crises apopléticas se eu falhasse na
revisão e escrevesse “em francês”...). Na Alemanha é Tischfussball (os dois “esses” são
representados pela letra grega “beta” em alemão de verdade) e a corruptela foosball consagrou-se em inglês, derivada do nome em alemão. Ora, direis, mas
são apenas nomes em línguas distintas, o que há de interessante nisso? É que,
na verdade, o pebolim varia muito em países diferentes.
Nos Estados
Unidos o foosball é jogado em mesas com bonequinhos, assoalho
e bola de madeira dura, enquanto na França usa-se uma mesa com assoalho de
linóleo e bola leve de cortiça. Na Alemanha os materiais são diferentes de
ambos. Apesar disso, existe uma Federação Internacional de Futebol de Mesa
(ITSF), à qual são filiadas, entre outras, a Federação Portuguesa das
Associações de Futebol de Mesa (FPAFM) e a Associação Brasileira de Pebolim
(ABP). E o livro de regras da ABP, traduzido da Federação Internacional, tem
nada menos do que trinta itens minuciosamente descritos em dezenove páginas.
Toda essa
organização parece um pouco exagerada para um jogo que, em geral, é praticado
de brincadeira no churrasco de fim de semana, assim como o era em cafés e bares
no mundo inteiro. No entanto, a ABP leva o jogo a sério e vem fazendo uma
intensa campanha com o intuito de recrutar mais e mais aficcionados para suas
hostes, em busca do reconhecimento oficial do pebolim como esporte. Um dia,
quem sabe, tornar-se-á modalidade olímpica.
Ainda bem
que, na época da faculdade, não sabíamos de nada disso quando, nas vésperas das
provas, passávamos horas a fio entretidos em torneios de futebol-totó na casa
do Ronaldo - antes dele se mudar para Taubaté onde, naturalmente, passou a
chamar o jogo de pebolim, com sotaque e tudo. Imaginem se, nos intervalos do
estudo para a avaliação de Neurologia do dia seguinte, ainda tivéssemos que
decorar as regras do joguinho...
Rafael Linden
Jamais poderia imaginar que um joguinho como o tal possibilitasse um texto como esse... Cheio de sofisticação... show!
ResponderExcluirMuito obrigado, Eduardo. Volte sempre!
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É muita informação para um joguinho mesmo. kk. Gostei do Baby-foot!!!!
ResponderExcluirPois é, e ainda há quem ache que é brincadeira...
Excluir:-)
texto mto bacana.......
ResponderExcluirObrigado, Anônimo. Volte sempre!
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Meu Deus!!! Associação Brasileira de Pebolim (ABP)... É isso mesmo?!!!
ResponderExcluirÉ verdade. Pode procurar no Google...
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